sábado, 1 de novembro de 2008

Nosso Tempo não Serve para um Opala **

Por Bruno Dantas

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A não ser que nos primeiros quinze minutos de projeção, os quais perdi, aconteça algo muito significativo que norteie e valorize todo o resto do filme, Nossa Vida não Cabe num Opala, de Reinaldo Pinheiro (curta BMW Vermelho), baseado na peça teatral de Mário Bortolotto, 104 minutos, é assistível, mas dispensável.

Monk (não Monkey, como ele deixa claro – Leonardo Medeiros), Lupa (Milhem Cortaz), Slide (Gabriel Pinheiro, com o mesmo papel da peça) e Magali (Maria Manoella) são irmãos e levam o fardo do pai (Paulo César Pereio) que está morto e volta e meia aparece para eles com conselhos e histórias. O falecido deixou uma dívida com Gomes (Jonas Bloch), que é um trapaceiro, empresário de boxeadores – esporte que Monk já foi campeão e Slide começa a praticar, e tem um desmanche de carros.

Por meio do roubo de automóveis, principalmente Opalas, é que Monk e Lupa vão tentando abater a dívida deixada pelo pai. Slide sonha em seguir o caminho dos irmãos, mas é um “vacilão” e não leva jeito para o roubo, Gomes então o encaminha para o boxe. Magali e Seus Teclados se apresenta em um barzinho e é uma derrotada, sendo assediada pelos clientes que só querem tê-la na cama, principalmente Gomes, que consegue sua atenção por ser “o melhor cliente”. Como ela concorda depois: “Tudo é um grande negócio”.

A montagem é muito interessante, em especial nas cenas da Sílvia (Maria Luisa Mendonça), com espécies de premonições do futuro, que não tardam em se mostrar verdadeiras, e as reconstruções da mesma situação. A mulher solitária, que só busca alguém para ficar ao seu lado, seduz os três irmãos da mesma maneira, obtendo o mesmo resultado: sexo. Monk (se) define: “homem encontra mulher, sente vontade, trepa e pronto”.

O filme tem até algumas qualidades, mas não convence. Dercy aparece, em umas de suas últimas imagens em vida, fazendo o que sempre fez, xingando. As brigas, com exceção da luta final, não convencem muito. O Lupa é o único que consegue arrancar risos. “Puta que nos pariu, cada irmão que eu tenho!”.

Justamente os outros dois irmãos, em uma luta armada por Gomes, com o conhecimento deles só na hora, se acabam em socos e sangue. Seria para corroborar a frase, no meio do longa, “tem que tomar porrada na vida para ficar esperto”? Mesmo que seja, não justifica. Lupa, chorando, devia realmente se questionar que irmãos ele tem, enquanto Magali olhava estupefata, e o pai morto desaprovava o acontecido.

Primeiro longa do diretor Reinaldo Pinheiro, o filme já foi premiado no Festival Cine Ceará e Cine PE, além de ser indicado em seis categorias no Festival de Paulínia, incluindo Melhor Trilha Sonora, que apesar de chata, combina com a atmosfera do filme.

Muitas pessoas saíram do filme gostando bastante, mas está longe de ser o melhor filme da temporada. É um filme que tenta acertar tratando da dificuldade de mudar de vida, porém se envereda por situações desnecessárias. Sigo o conselho de Lupa: “ficar com pena é pior do que com raiva”. Fica o conselho: tem outros filmes que merecem mais o seu tempo.

Lupa em mais um Opala roubado
Imagem: Marçal Souza

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