
O primeiro filme longa-metragem do ator Matheus Nachtergaele, conta a história de Santinho, representado por Daniel Oliveira, que ganhou status de líder espiritual ao receber, da boca de um cachorro, os trapos do vestido de uma menina que desapareceu. Há duas décadas, um evento em homenagem à menina é realizado, onde o povo busca por bençãos e revelações, vindas da boca de Santinho em momentos de transe, durante a cerimônia.
O roteiro passa-se em Barcelos, cidade ribeirinha do Amazonas, e deixa bem claro o alto teor sincrético, misturando várias manifestações religiosas, como o catolicismo, candomblé e espiritismo. A festa atrai a cada ano um maior número de pessoas e cresce indiferente a dor da perda do irmão da menina, interpretado por Juliano Cazarré. Em meio às discussões religiosas, outro tema também causou polêmica e até uma certa repugnância no público, como o incesto entre Santinho e seu pai. Interessante perceber como Matheus tentou mostrar tudo isso e sem precisar mostrar com detalhes visíveis as relações sexuais entre eles. A adoração de um vestido rasgado contrapõe-se à beleza das manifestações populares, repleta de poesia. O filme é denso, forte, mas não é cansativo. A fotografia, assinada por Lula Carvalho, é cheia de contraste que remete ao drama da ficção. Em alguns momentos é nítida a influência de Claúdio Assis (diretor de Amarelo Manga), mas não passa de meras referências ou até coincidências.
Elenco também conta com Dira Paes [foto], Jackson Antunes, Cássia Kiss e uma pequena participação de Paulo José, além de atores locais. Todos os papéis possuem uma carga emocional muito forte. Destaco Santinho, que transita entre o profano e o santo, e sua histeria o torna de certo modo até cruel, e ao longo do filme, podemos compreender o porquê de toda sua agonia.
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