terça-feira, 4 de novembro de 2008

Liverpool ***

Imagem: Divulgação
Farrel desembarcando em Ushuaia.

Por Bruno Dantas

A vida monótona caracteriza o filme de Lisandro Alonso, Liverpool, produzido com a parceria da Argentina, França, Holanda, Alemanha e Espanha. O filme relata a história de Farrel, um marinheiro alcoólatra que desembarca em Ushuaia, Terra do Fogo – Argentina, com o objetivo de procurar a mãe, que nem sabe em qual situação se encontra – viva ou morta.

Os planos do longa, assim como a vida do marinheiro no mar, são estáticos e parados, com pequenos ajustes apenas para acompanhar a ação dos personagens, e sempre fixos ao final de cada ação, como uma fotografia. Os enquadramentos, belos, geralmente emoldurados e com primeiros planos, enchem os olhos dos espectadores. A imagem realmente impera, sendo que há poucas falas durante os 83 minutos de exibição. Na transição das cenas, há contraste entre o cenário escuro e a branquidão da neve.

Algumas vezes, a câmera não mostra realmente o que o personagem faz, proporcionando a possibilidade da mente correr solta. Os sons são predominantemente os naturais, como os do navio e da natureza. As únicas vezes em que há trilha sonora é quando Farrel passa por um bordel, e quando um homem vê uma revista que aparenta ser de nu feminino.

O único companheiro do homem é sua garrafa de bebida alcoólica, talvez para diminuir sua solidão, ou pelo nervosismo de rever a mãe, Nazarena, que depois se sabe está doente, mas viva. Ela está sendo cuidada por Trujillo, que reconhece Farrel assim que o vê. O marinheiro também descobre que tem uma irmã, Analía, que nasceu com algum problema mental depois que foi embora.

Nazarena está tão velha, e tantas pessoas a visitam, que não conhece, nem desconhece ninguém. Trujillo, indignado com a volta do rapaz, uma hora questiona Farrel, que finge estar desacordado por causa da bebida: “Por que voltou? O que veio buscar? Qual herança você deixou?”.

Apesar de tanta beleza e enquadramentos que beiram a perfeição, o diretor Lisandro Alonso peca em tentar fazer da história um grande filme. Com o passar dos minutos, vai se tornando monótono, demorado e até um pouco chato. Esse não é um filme de ação, e sim de arte. Se o longa fosse um curta, ou até um média-metragem, ganharia em dinâmica e público, sem perder o charme e a intensidade da história.

Tanto tempo longe fez o marinheiro esquecer os sentimentos, restando apenas um fio de senso de responsabilidade. Quando volta para sua vida, deixa apenas dinheiro e uma lembrança para Analía - sua herança e a resposta à pergunta de Trujillo. O que deixou foi um chaveiro de Liverpool, mostrando que o que buscou, e encontrou, foi um mundo inteiro a espera de ser desbravado. Mas a procura por si mesmo ainda não acabou.

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